“Pecamos!”. Essa foi a síntese que a prefeita Paula, do
PSDB (45), que já foi vice de Eduardo Leite (PSDB) e candidata a reeleição, manifestou
sobre uma questão a respeito dos retrocessos ambientais em Pelotas, formulada
por nos, do Centro de Estudos Ambientais (CEA), durante uma entrevista ao vivo, no Programa ContraPonto, da RadioCom, em 26.10.20, no primeiro turno.
O questionamento posto pelo CEA foi o seguinte: “Esse
grupo politico que esta no poder municipal há mais 15 anos promoveu o maior
retrocesso ambiental local, agravando a crise climática. P. ex., acabou com
diversos programas ambientais, como a Agenda 21; atacou a arborização urbana;
desprotegeu áreas ambientais, como a Mata do Totó e os banhados; não criou
unidades de conservação e nem um Parque urbano; cerceou a democracia no COMPAM;
zerou o fundo de meio ambiente. Como pretende refazer a politica ambiental
local, caso seja eleita?"
A prefeita, que é vinculada a tal grupo que esta no poder
local há mais de 15 anos, disse que “pecaram” em “termos de projetos”. Pecar
significa, na religião, ferir alguma regra religiosa e, no jargão comum, agir
de forma contraria a uma determinada norma. Ao usar uma terminologia não técnica,
mas sim religiosa (já que pecar não é um instituto jurídico no âmbito da
Administração Publica, até mesmo porque o estado é laico), foi aberto espaço para
interpretações a tal resposta da prefeita candidata, as quais, algumas,
faremos, não com base na fé, mas em fatos e na politica ambiental proposta e praticada
por esse grupo politico neoliberal.
Mas antes é importante dizer que concordamos com a candidata
nesse aspecto. O governo atual e os governos construídos e apoiados por esse
grupo político que esta no poder desde 2005, cometeram muitos “pecados”, que de
fato, traduzindo para termos técnicos jurídicos, são atos que atentam contra o
principio constitucional do meio ambiente ecologicamente equilibrado, alguns se
tratando de claro descumprimento da lei ambiental, configurando desvio da obrigação
de proteção ambiental inerente ao poder público em geral, e não somente ao órgão
ambiental municipal.
A lista de desvio do fim proteção ambiental é extensa.
Para ilustrar, citamos: a tentativa, a revogação e a flexibilização das leis
ambientais sem debate com a sociedade, sem base técnica e cientifica, além da
falta de transparência dos processos de licenciamento ambiental, das definições
e aplicações das compensações ambientais, bem como a sonegação de informações
ambientais, materializada no boicote ao relatório ambiental (RAMB), dos quais, dos
16 que deveriam ser realizados, já que são anuais, somente foram produzidos 3
e, mesmo assim, 2 após a uma representação nossa ao Ministério Público. Dos RAMBs
devidos se encontra o atual, que deveria ser divulgado em junho de 2020, em
relação ao ano de 2019.
A prefeita também disse que tal “pecado” seria compensado
por dois aspectos.
Um é uma ideia de criar unidades de conservação (UCs), reinvindicação
antiga do movimento ecológico, mas que não foram implementadas, em que pese existirem
as principais condições para tal durante o seu governo, como:
1) estudos
de décadas atrás de ONGs e universidades, reforçados por uma coletânea publicada
pela UFPel em 2018, notadamente sobre o banhado do Pontal da Barra;
2) a
propriedade do poder público municipal de áreas potenciais (como o entrono da Barragem
Santa Barbara, o Ecocamping e o Parque Farroupilha);
3) 2 milhões de reais disponíveis no Fundo Municipal de Proteção e Recuperação Ambiental (FMAM). Sendo que o COMPAM já havia liberado recursos do FMAM para o governo municipal dar inicio a implantação do Parque da Barragem Santa Barbara, cuja criação foi prometido pela candidata em 2016, conforme consta no seu Programa de Governo, abaixo.
Para
nós, a candidata deve explicar ao COMPAM e a sociedade porque nenhuma UC foi
criada se haviam todas as condições matérias básicas para tal. Essa omissão,
traduzida num descumprimento da promessa de campanha, é também, não um “pecado”
(e por isso, não cabe perdão), incompetência e, pode ser ainda, fruto do desprezo
desse governo pela politica ambiental.
A segunda “compensação”, conforme a candidata, é a que “se
avançou muito na agilização dos processos”, sem apresentar nenhum número, estudo
e nem dados sobre tal suposto avanço. Foi só uma opinião. Ficam as perguntas:
- Quem avançou? E porque
destacar um ponto que não estava no seu programa de governo?
- Tal suposto avanço, foi benéfico
para a proteção ambiental? Ou para quem?
- Será que tal agilização
referida pela candidata se refere a processos de loteamentos que estão destruindo
a Mata Atlântica e o Pampa, licenciados pela Secretaria de Qualidade Ambiental
(SQA), como alguns no Laranjal?
- Degradação é sinônimo de
agilidade para esse governo?
Ao “responder” como refazer a politica ambiental local, a
candidata se restringiu a somente dois aspectos: a) evocando a UFPel, disse que
vai implementar as UCs. Aquelas que não criou quando tinha estudos, áreas próprias
e 2 milhões (que ja não mais existem, porque a própria prefeita zerou o fundo
ambiental) e; b) plantar árvores.
Quais UCs vai implementar? Quando? E com quais recursos,
se ela mesmo zerou o FMAM? Ainda mais agora que o governador do estado, da qual
ele foi vice-prefeita em Pelotas, enviou a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 258/20, que prevê a privatização das UCs estaduais? Como acreditar que a prefeita,
sendo de um partido assumidamente neoliberal, vai usar recursos públicos que já
não tem mais (teria que buscar em outra parte do orçamento. Esta previsto?)
para criar UCs publicas, enquanto sua referencia política e partidária quer fazer
justamente ao contrario: privatizar?
- Plantar árvores? Quais? Onde? Quantas?
Esse é o dito projeto político ambiental da prefeita? Implantar
UCs (sem recursos e para depois privatizar?) e plantar árvores. Só??? Ainda que
sejam medidas fundamentais, a politica ambiental é muito mais que criar UCs e plantar
árvores!!! E a democracia ambiental? E o acesso a informação ambiental? E os
banhados? E a Educação Ambiental? E os Parques? E as ciclovias? E o combate as
mudanças climáticas?
As funções da SQA são bem mais amplas e, na prática, o
projeto de política ambiental desse governo neoliberal é bem diferente do que
esta dito nas entrevistas e escritos no Programa de Governo. Para nos, compreende
continuar a promoção do retrocesso ambiental revogando e flexibilizando leis
ambientais que diminuem a proteção ambiental e a participação no COMPAM e retiram
sua autonomia, atacando assim a democracia ambiental. Sua prática mostra isso
de forma inequívoca.
Por isso é quase impossível acreditar nessas promessas, sobretudo
porque elas já foram feitas há 4 anos, quando a prefeita se candidatou e foi
eleita. Sim, exatamente. No Programa de Governo da prefeita, em 2016, para a área
ambiental constavam 13 pontos, entre eles: a) Ampliar o plantio de árvores na
cidade e estimular os cidadãos a fazer o mesmo (que não foi realizado); b) Realocar
e reestruturar o Horto Botânico na Granja Municipal com transformação do espaço
em um Parque Municipal (que não foi realizado);c) Qualificar o espaço do
Eco-camping, tornando-o um espaço público para o Ecoturismo (que também não foi
realizado).
Assim o grupo politico que esta no poder há mais de 15
anos é um verdadeiro “pecador” ambiental ou, usando os termos jurídicos técnicos
adequados, um descumpridor da lei ambiental. O que a prefeita chama de pecado
na política ambiental, chamamos de retrocesso ambiental.
Tabela a seguir trata do Programa de Governo da Paula em
2016, com o título “NO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE”, com 13 pontos,
confrontando com realizado ou não realizado.
13
Pontos |
Realizado/Não
realizado |
|
Realização
de estudos para a implantação de um parque eólico na cidade gerando energia,
emprego e renda; |
|
Não
Identificado |
Estimular
um Programa Municipal de Bioenergia |
|
Não
Identificado |
Aderir
a programas de outras esferas de governo, que estimulem a sustentabilidade
ambiental; |
|
Não
Identificado |
Elaborar
o Guia de Sustentabilidade Ambiental; |
|
Não
realizado |
Elaborar,
em parceria com a COINPEL, o projeto “Sistema Online de Gestão Ambiental
Municipal”; |
|
Não
realizado |
Delimitar
as Áreas de Interesse do Ambiente Natural – AEIANs do município; |
|
Não
realizado |
Realocar
e reestruturar o Horto Botânico na Granja Municipal com transformação do
espaço em um Parque Municipal; |
|
Não realizado |
Ampliar
o plantio de árvores na cidade e estimular os cidadãos a fazer o mesmo; |
|
Não
realizado |
Estabelecer
um programa de Educação Ambiental para a rede pública de ensino municipal; |
|
Não
realizado |
Criar
a Política Municipal de Educação Ambiental; |
|
Não
realizado |
Realizar
a Conferência Ambiental como resgate da agenda XXI; |
|
Não
realizado |
Qualificar
o espaço do Eco-camping, tornando-o um espaço público para o Ecoturismo. |
|
Não
realizado |
Qualificar
praças e áreas verdes. |
|
Foram
realizadas obras em algumas, como Praça Pedro Osorio, Duque de Caxias e
Saldanha Marinho |
Ou seja, nada, exatamente nada do que constou no seu Programa
de Governo anterior foi executado. Por essa e outras que O CEA tem dito que o
grupo politico que esta no poder há 16 anos promoveu o maior retrocesso
ambiental e reafirma.
Fontes: CEA, TSE.
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